domingo, 27 de março de 2016

Vazio existencial, insatisfação e Cinema



É impressionante revisitar filmes e ver como se mantém atuais, dialogando com a atualidade e nos fazendo pensar.  Acabei de revisitar dois filmes, um é o “Clube da Luta” e o outro “A Onda”. Estava pensando na situação por que passa o nosso país quando refleti sobre esses filmes.
Há algum tempo venho refletindo sobre uma questão existencial em nossos jovens e jovens adultos, uma geração acostumada a se divertir, que se não cresceu na era digital, acompanhou seus primeiros passos desde crianças. Saídos de uma autêntica classe média, ou da nova classe média, gerada em uma década de inclusão de milhares brasileiros inseridos no consumo, somados a uma noção errada de meritocracia no trabalho, onde esqueceram que foram colocados na mesma linha de partida dos outros por meio de políticas de afirmação (Cotas, FIES, PROUNI e cursos técnicos federais).
Em cena do filme “Clube da Luta”, o personagem de Brad Pitt, Tyler Durden discursa: “Nós somos os filhos de um país ridículo e sem história, sem propósito ou lugar. Não tivemos Grande Guerra, não tivemos Grande Depressão. Nossa grande guerra é a guerra espiritual, nossa grande depressão são nossas vidas. Fomos criados pela televisão para acreditar que um dia seríamos ricos, estrelas de cinema os astros do rock. Mas não seremos. E estamos aos poucos aprendendo isso. E estamos muito, muito revoltados”.
Seria anti-ético fazer nossa auto análise, pois nunca passamos por guerra, as igrejas neo-pentecostais crescem pregando o crescimento de riqueza individual como medida de fé, enquanto programas de televisão como BBB entre outros, nos fazem acreditar em celebridades instantâneas como parâmetro de sucesso, fazendo muita gente correr para as academias tendo como último propósito a saúde e a consciência corporal, porém sabemos que tudo isso não nos preenche espiritualmente, perpetuando aquela sensação de vazio.
Em “A Onda”, um filme que os personagens (professor e alunos) discorrem sobre a possibilidade de implantar uma nova autocracia na Alemanha tendo como ensaio a sala de aula, já no começo do filme, dois alunos dialogam com frases: “Não temos nada. Contra o que é que vamos nos revoltar hoje em dia” e “O que falta para nossa geração é um objetivo comum, algo para unir as pessoas”. Já em outra parte do filme, outros personagens disparam sobre as condições para a implantação de uma ditadura enquanto falam das condições ideais: Desemprego, Injustiça Social, Inflação Alta e Nacionalismo Exacerbado.
            Com essa combinação explosiva de vazio existencial e condições ideais de insatisfação popular, faltava apenas um alvo. Os grandes veículos de comunicação tiveram apenas que ligar um partido ao monopólio da corrupção e a partir daí recrutar soldados, quero dizer brasileiros, para lutar contra ela. Em um piscar de olhos, estavam unidos, lutando por um país, todos com um objetivo, disciplinados e seguindo o comando da grande mídia,
O cinema é mesmo fascinante e profético.

Hudson Valinhos
  
 Fichas técnicas dos filmes:

Clube da Luta
Título Original: Fight Club.
Origem:
Estados Unidos / Alemanha, 1999.
Duração: 2h31m
Direção:
David Fincher.
Roteiro:
Jim Uhls, baseado em livro de Chuck Palahniuk.
Produção: Ross Bell, Cean Chaffin e Art Linson.
Fotografia:
Jeff Cronenweth.
Edição: Jim Haygood.
Música: The Dust Brothers.

A Onda
Título Original: Die Welle
Origem : Alemanha, 2008.
Duração: 1h41m
Direção: Dennis Gansel
Roteiro: Dennis Gansel, Peter Thorwarth
Produção: Nina Maag
Fotografia: Torsten Breuer
Trilha Sonora: Heiko Maile

Um comentário:

  1. Olá, gostei muito de sua reflexão. Nos faz pensar sobre a nossa geração e essa que cresceu, nos últimos 10 anos, próxima do consumo e prosperidade econômica e tão longe de um ideal para lutar. Agora, buscam preencher esse vazio...mas sem "formação" própria...qualquer orientação serve. beijos e parabéns! Continue escrevendo.

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